domingo, 22 de agosto de 2010

Uma torpe visão.


Ao amanhecer de um dia qualquer, abriu os olhos e o sol feria sua pele e os cães lambiam suas feridas infeccionadas. Seu nome não lembrava e nem onde estava, e o que era? Não mais!
Passavam se as horas e não se movia com o tempo, a fome, suas feridas, nada pareciam incomodar. Angustiava-me ver tal figura, em silêncio ficava e não se movia. O que talvez me ocasionasse tanta dor e sofrimento nele nem se refletia e para meu espanto e terror, por vezes o via sorrir, como se soubesse que eu o observava. Os olhos esbugalhados, vermelhos, sua pele suja, seus cães imundos, feridas que não se cicatrizavam, como se ele as tivesse por toda vida... Chegou se a noite e me retirei.
Ao amanhecer não abriu os olhos, a chuva caía sobre seu rosto, os cães sumiram como se nunca houvessem existido, uma respiração fraca e sutil naquela carcaça imunda, minha alma foi invadia por um horror e medo inexpressável. Naquele momento tomei-me de coragem e me aproximei um pouco e mais, ele estava morrendo... Cobri meu rosto com a camisa, pois um fedor insuportável de fezes e urina me provocava náuseas... Algo em mim pedia para tocá-lo, mas incessantemente recusava-me.
A respiração parou, já era entardecer, me questionava o porquê de tudo aquilo. Era estranho, comecei a achar que estava sentindo prazer no padecer, no falecer daquele homem ou daquele ser. Lá estava eu, não sabia mais a razão pela qual o admirava, sentia perdido, solitário, sem vida, cansado...
Já era noite quando me afastei do corpo daquele que há dias observava, me sentia vazio, possuía a certeza absoluta que nunca mais aquela face de sorriso fantasmagórico veria. Um silêncio fúnebre tomara conta de minha alma, meu espírito se rebatia, minha razão me abandonara. O que eu era? Não mais sabia!
Naquela noite me fechei em casa, sentei em uma velha poltrona, fechei os meus olhos e esperava que nunca mais eles se abrissem, me sentia demasiadamente insatisfeito, minha respiração era fraca, minhas forças faltavam... Adormeci.

O que é esta vida que se desfaz?
Seria ela parte de mim?
Ou seriam elas as minhas dores a se refletirem?
Na escuridão o homem que dorme
Torna-se aos poucos uma estrela errante,
Vagando sem olhos e faminta.
Definitivamente, a droga mais forte que existe é a realidade!

Nenhum comentário: