sexta-feira, 6 de abril de 2012

Um passo...


''E o rio se revela turvo, mas transparente... ''

A lamentação diária, rotineira, provável no possível e na impossibilidade. Caminhos que se fazem retilíneos em uma figura de realidades cíclica, múltiplas e divergentes.
Aflogístico lamentar e o tempo que outrora fruto de mitos e canções, agora aliado a verdade se prostra aos pés do caos e suas intenções.
E em nossas faces cansadas e caídas de tanto procurar, por algum motivo, o despertar!
Pode parecer à primeira vista insensatez, mas o que não é insensato caro amigo? Libertar se do medo, medo ao qual é a origem de toda falsa verdade e um caminho de sombras e sem direções!
Razões que cremos que são desconhecidas, razões a quais conhecemos que em si de racional nada possuem... Mas no intimo tudo é revelado e facilmente conhecido...
Cada momento que se passa, cada segundo que se esvanece, perceber se cada vez mais e evidentemente que tudo é tão comum, simples, como uma brincadeira de criança, como o revoar dos pássaros...
Somos moldados diariamente para estabelecer e fundamentar a nossa fé na razão. Dificultamos as passagens, colocamos barreiras, impedimos o caminho com nossas conclusões inúteis e fúteis, nossas atitudes tolas procuraram erroneamente... Cavamos buracos para encontrar o que é o bem e elevamos nossas faces para o alto, na tentativa de compreender o mal.
Mas, o que não sabemos é que estamos além e que a cada momento que se passa, chegamos mais perto, cada vez mais perto e no entanto nada podemos ver!
A realidade é única e ao mesmo tempo fragmentada, múltipla e em desordem, ela nos arremessa ao mesmo lugar, mas por caminhos diferentes. Ela nos molda conforme nossa imaginação que reflete o fragmento do caos em cada um de nos. Somos espelhos a refletir, somos o que o espelho reflete, somos um insignificante e frágil fragmento caótico e nossos infinitos irmãos... Somos a distorção da criação e sua magnífica manifestação, esferas de infindas cores, frágeis e compulsivos. Somos o que se eleva e o que se rebaixa, a turbulência e a calmaria, os sonhos e os temíveis pesadelos!
Somos parte de uma canção composta por energia e sua sinfonia caótica, somos manifestações e contradições, somos as notas que foram compostas pela majestosa sinfonia em instrumentos do tempo...
A cada um que se ache vazio, se preencha... E aos preenchidos, se esvaziem!
Pois o caos e sua sinfonia se revelam a cada novo amanhecer, com suas cores e desordem, amores e ódios, como bons e péssimos pais.
E tudo jaz simples na cova que se refaz, pois o desperto já não mais dorme, a realidade não mais engana, o que outrora cegava te faz ver por sobre todas as coisas... Você tudo pode ser e na iluminação nada ser!
E aos tolos basta à alegria, a felicidade de se alimentarem de ilusões e tolices!
Em verdade, segredos não existem, apenas coexistem com as diversas possibilidades e suas alusões...
Quem compreende cada vez mais ama, pois tudo se encontra em aberto e em constante evolução.

Neblina


Empoeirado é o solo, vaga são as lembranças. Saiba que eu tentei fazer o meu melhor, que ansiosamente esperei pela verdade.
Abandonei tudo, tranquei minha alma em um baú escuro e vazio... Desejei o desejo de retornar para casa, sem sangue nas mão. Sonhei com você todas as noites antes deste dia...
A loucura arrastou me ao abismo e sua voz se tonou um vendaval a derrubar as folhas das arvores, hoje nesta colina onde me ajoelho, onde um alto preço foi cobrado... Os raios do Sol se tornaram navalhas e carrego as nuvens enquanto rastejo no sangue dos meus antepassados...
Por favor, olhem as cicatrizes que se espalham e sangram e que não se fecham com tempo.
Meus olhos avistam as torres em chamas... Deus onde estivestes esse tempo todo em que andei enfeitiçado pelas duvidas?
Minhas mentiras e contradições são como areia em pote de vidro... Não vejo nada além de fantasmas por entres a pedras, um infortunado filho perdido na tempestade... Perdedores e sonhadores em um mesmo amor, atormentados pelo tempo e vendados pela ilusão.
Onde me perdi, em qual ponto nos perdemos... Onde esta o caminho?
Quando recordo me do que não me lembro, do que não vivi... Estar sentado na margem do rio vendo meu coração ser levado com a correnteza, sentir meu espirito se misturando as gotas de chuva... Ver os céus se abrindo e eternas mãos a me apanhar, como uma inocente criança a arrancar pela primeira vez o doce e maduro fruto...
Os dias me sufocam, as grades me ferem, minha divida com os céus e comigo mesmo não é bem vinda... Ser obrigado a fragmentar o meu ser e me perder, esquecer de quem sou?
Oh Senhor, abra se uma janela por só e somente uma vez, para que eu possa ver, para que eu possa voltar a vida! Assim como a semente esquecida na seca germina quando o espirito da chuva vem lhe abraçar...
Tudo me entorpece e ilumina... Esse casulo não é minha casa, essas falsas emoções não são a sombra da minha alma. Eu vejo por uma fenda, um reluzente lugar cuja a terra é branca e as montanhas de cristais, onde além tudo se torna sem forma e vazio...

06-04-12


O ciclo de cinco singelas notas... Um pianista inebriado pela lua, sangra e em sua alma uma paz dormente, obtusa, trágica... Atravessa e repassa, arranca e folheia...
A fumaça de seu cigarro turva lhe os olhos, se acelera o compasso, nasce a fúria solitária sem compaixão e gloria.
Os corvos na janela não o deixam dormir, ele se levanta a gritar e amaldiçoando os céus... céus que cinco segundos após o responde, com raios e trovões...
As alucinações tomam conta daquela alma como um eclipse inesperado acorrenta os olhos de uma multidão!
Se transporta, reedifica e transcende... O uivo sincero e a caçada repentina, correr por entre venturas e corredores de grandes arvores, vivas!
A respiração repete o compasso, o coração vibra com cada nota, como em um redemoinho de borboletas em frente ao Sol...
O vazio e suas perguntas o digerem como uma serpente... Enquanto lentamente se estabelece a harmonia, em seu lado esquerdo escuras almas em busca de luz, ao seu lado direito iluminadas almas em busca de lembranças...
E nas catedrais vazias e empoeiradas recordação de um lamento por entre vitrais e estatuas...
A alma arranca suas vestes gastas pela eternidade e renasce, pura, límpida, milagrosamente silenciosa.

É fato, amanhecer...


Eu não me cansarei de ver o sol nascer.
Eu nunca vou dizer desde agora desisto,
Extrema força,
Eu sei!
Instinto, estado, espírito,
Três formas de agir...
Cantarei sobre as pedras
Caminharei em meio as tochas,
O fogo a consumir, renovar...
O fogo que purifica a alma de toda mentira...
A estrada do destino,
A batalha de um menino...
O lamento da viúva,
A solidão de um lobo...
De tudo algum proveito,
A alma que muito chora, jamais estará ressecada.
Espinhos encravados na pele,
Espinhos costuram a pele...
O sangue brota da pedra,
As pedra nascem da terra,
A terra nasce das águas,
As águas nascem do vento...
Tal como uma virgem a dar a luz a um filho...


''O caminho esta iluminado, mas sabes para onde ir?''



Coloquei-me em baixo da chuva, uma chuva que nunca para de cair...
Lavei minha face e pedi perdão!
Mais uma vez elevei os meus olhos para o céu... Apenas o som da chuva caindo na terra!

terça-feira, 3 de abril de 2012

03-04-12


Sua alma… Este sopro silencioso que constitui a ponte para o seu ser, decifrar?
Sem formas, cor, cheiro... Esta experiencia de criação onde infindáveis mundos nem se quer hão de existir. Energia, apenas energia... O mistério esculpido em seus olhos por intermináveis dias, a presença, o calor, a verdade se torna uma palavra presente.
Por muito tempo andei fraco e angustiado.... Os meus sentidos e emoções estavam supervalorizados em minha desgraça e decadência; imperfeito, insatisfeito, incompleto...
Noite de luar sem estrelas, sim, sou feito a turva neblina que sua mistica silhueta ninguém contemplou...
Fecho os olhos, monocromática memoria... O sussurro do passado há velar o futuro.
Me apaixono pelo que não posso ver, sinto o que não deveria sentir... O teu pensamento a passar por mim feito procissão de fantasmas em direção ao Sol. Nuvens flutuando no silencio, um sonho febril!
Eu vejo uma tempestade se formando no chão, a cicatriz se fechando e o planeta novamente navegando... Não existe razões ou caminhos traçados, certezas e propósitos se perdem em meio as cinzas...
Fomos abandonados cegos nessa esfera... Somos acolhidos pelo destino em vão, pois nem o mesmo sabe quem somos... Perdidos entre a escolha, despertar? Eu não temo descobrir que caí longe demais...
Algumas coisas realmente não podem ser explicadas, o que sinto é como o esverdeado musgo que cresce sobre as pedras... 
E em sua alma? Na luz nua eu vi amor em ti!
(Rodrigo Taveira)

domingo, 1 de abril de 2012

A Casa...


Antes da minha partida para o norte, havia uma casa em Santo Algures e essa casa era feita de pedras, brancas, verdes e negras... Não haviam moveis e ninguém a habitava.
Lembro me de passar horas olhando, observando aquela casa, havia três arvores em sua frente e uma fogueira que duelava com a luz dos Sóis. Algumas vezes pude ver crianças que corriam por entre as arvores, belas arvores mas sem frutos.
O céu por sobre a casa era sempre violeta, mesmo quando chovia. E o tempo não a alcançava, a casa não envelhecia, o fogo não se apagava e das arvores sequer uma folha eu vi cair.
Enfim, sentia paz emanar por todos os lados, os meus pensamentos não me afligiam e me sentia bem!
Toda vez que meus olhos se fecham, me vem essa lembrança... Estou tão mudado, esta tudo diferente... Não sei quem sou, onde estou, mas da casa não esqueço.
Estou sentindo, posso ouvir o nada... Uma estrela em sacrifício se transforma em pó, mais um dia se vai, a noite se aproxima e tenho a sensação que pelo menos por esta vez, os meus pesadelos sumiram...
Mas não fecharei os meus olhos, aproveitarei que estou em paz e contemplarei as estrelas no céu, pois após muito tempo vejo por trás das entrelaçadas redes da realidade... O céu estrelado e com a Lua a olhar para min, basta!
A noite se torna fria, mas não me incomodo... Por longo tempo não me sentia tão bem, os meus demônios se calaram e os anjos não me perturbam mais, apenas eu e o universo... Sim! Essa é a melhor sensação que já senti... Verdadeiramente solitário, sinto até que os olhos de Algures não estão a me observar...

A um grande e único lugar,
Onde repousa tudo e todas as coisas,
Um lugar afastado e tão perto...
E somente nesse lugar pode se perceber,
A diferença da liberdade e da escravidão...

Até quando, até quando... Até quando essa pergunta que não cala em meu ser?
Sim, por pouco se vê a transfiguração e o homem não estará aqui... Eis que ecoa o trovão!
(Rodrigo Taveira)